Leandro buscou novas tecnologias para impressão do cordel
Artista do século 19 criava versos,
imprimia no prelo, letra por letra,
distribuía e ainda vendia os cordéis,
que, na segunda metade do século 19,
começaram a ser impressos pelo linotipo.
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Texto e fotos por Valdívia Costa
A palestra da 6ª Feira Literária de Boqueirão (Flibo), “Leandro Gomes de Barros e a imprensa”, com Bráulio Tavares e Astier Basílio, nesta sexta-feira (30), mostrou o perfil empreendedor e vocacionado do "pai do cordel brasileiro". Segundo Bráulio, o artista de Pombal, no Sertão paraibano, fez das tecnologias do século 19 aliadas na difusão da cultura popular escrita. Antenado nas inovações do mercado editorial da época, Leandro passou do prelo, que imprimia os folhetos letra por letra, para o linotipo.
Por causa dessa visão “moderna” para aquele século, Leandro se destacou na imprensa nacional. Atuou conforme suas necessidades pessoais e profissionais, como criador, gráfico, distribuidor e vendedor dos livretos. Foi por essa caraterística dinâmica que Bráulio começou sua apresentação explicando um pouco do conceito cyberpunk, que seria muito bem aplicado ao perfil do artista Leandro.
A palavra designa da cibernética, do universo underground da sociedade, ou da contracultura. Dentro desses moldes, no “faça você mesmo”, o cordelista fazia algo que era consumido pelas classes mais baixas da sociedade. O escritor ainda comparou o artista dos cordéis com outro, também nordestino, ícone da música, Luiz Gonzaga. Ele e Humberto Teixeira projetaram o forró, ritmo popular, em meados do século 20, para as altas classes sociais através da tecnologia radiofônica, parceira da indústria fonográfica.
“Leandro fez a mesma coisa que Luiz Gonzaga fez no século passado, só que na década de 1850. Essa cultura do cordel não chegava nas classes mais altas. Fazer verso é uma arte altamente refinada, intelectual. É uma arte complexa, sempre dominada por pessoas de baixas classes sociais, pessoas que nem alfabetizadas eram”, disse. Bráulio enfatizou que Leandro se beneficiou de um momento de transição na tecnologia.
Na substituição do prelo pelo linotipo, o artista conseguia economizar 80% do tempo que a máquina antiga gastava. “Existe a teoria que diz que Portugal já imprimia cordel antes do Brasil. É possível que os Folhetos da Princesa Magalona, de Portugal, sejam os primeiros cordéis do mundo”, falou. Porém, Leandro é o símbolo de uma cultura oral que já está entre as pessoas, mas que não chegou na "grande mídia", de acordo com Bráulio.
Astier Basílio encerrou a apresentação sobre a participação de Leandro na imprensa com exposição de recortes de jornais impressos do início do século 20, como O Rebate, de 1909 do Juazeiro (CE) e jornais do Recife (PE), que noticiaram Leandro e sua obra. “Em alguns desses recortes há alterações dos versos originais de Leandro, impressos anteriormente aos jornais, em folhetos. Era como se o artista ajustasse a linguagem para um atual momento. Há indícios que ele também fazia glosas de improviso”, concluiu.
Programação
Sábado (31)
9h – Feira de Boqueirão – Encontro de Poetas Cordelistas, Repentistas, Violeiros e Declamadores e apresentação da peça teatral “Discussão dum fiscal com uma fateira”, com a Cia. Cordel em Canto;
9h – Praça da Abes - oficina “Iniciação à xilogravura”, com Marcelo Soares;
14h – Escola Padre Inácio – oficina “Literatura de cordel: intervenção em sala de aula”, com Fernanda Félix e Roberta Tibúrcio;
Oficina “A arte de contar histórias e suas técnicas usadas na sala de aula”, com Cris Leandro;
Oficina “Ensino em língua Portuguesa e Multimodalidade”, com Bruna Maria, Larisa Bezerra, Maria Gorette.
19h – Praça da Abes - Sarau poético com integrantes da Abes;
20h – Sarau “Eu sou neguinha”, com Ariel Coletivo
21h – Shows com Júnior Meneses e As Severinas.